O pagode inglês, reflexão entre o nosso blog e os estudos da comunicação
- Brasilidades

- 18 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de mai.
O pagode para além de um gênero musical, mas como também um estudo da comunicação

O “Brasilidades” foi desenvolvido com o objetivo de adentrar mais a cultura do pagode, um gênero musical brasileiro extremamente alegre, contagiante e popular. O blog foi pensado para que vocês leitores possam se sentir pertencentes a esse universo tão mágico e envolvente, tudo articulado para que vocês se sintam em um ambiente onde o pagode não tem fim; os títulos, as cores, as formas, o nome, todos elementos projetados para criar uma atmosfera calorosa, dançante e apaixonante tanto quanto as letras dos grandes poetas do gênero, como Péricles, Grupo Revelação, Belo e entre tantos outros que poderíamos passar este texto inteiro apenas os citando.
Entretanto, este texto não possui como objetivo único deixar claro como desenvolvemos o Brasilidades, ou quais elementos usamos, na realidade queremos aliar todo esse processo criativo com nossos estudos na universidade. Nós, jornalistas em formação, estudamos alguns processos e teorias que objetivam conhecer mais a comunicação, a origem dela, algumas correntes, escolas, pensadores. Pensamos então em conectar o universo do pagode com o universo acadêmico, expandir esse gênero para além das caixas de som e fones de ouvido. Portanto, decidimos costurar este site com as ideias propostas na Escola Inglesa de Comunicação.
A Escola Inglesa de Comunicação, conhecida por estudar como as mensagens são recebidas e entendidas pelas pessoas, trouxe uma ideia muito interessante: nem sempre aquilo que é dito é exatamente o que é entendido. Imagine que a comunicação é como uma carta enviada por alguém — quem escreve escolhe as palavras (codifica a mensagem), mas quem recebe pode interpretá-las de formas diferentes (decodifica). Isso acontece porque cada pessoa tem sua própria bagagem de vida, cultura, crenças e experiências. Então, uma mesma mensagem pode ser vista de maneiras distintas por pessoas diferentes. Para essa escola, o mais importante não é só quem fala, mas também como quem ouve entende.
A partir desse entendimento de codificação e decodificação que elaboramos o Brasilidades. Codificamos elementos presentes nas músicas de pagode, e até mesmo de ambientes onde o gênero é tocado, e colocamos eles ao decorrer do blog. Um dos elementos mais perceptíveis é o próprio nome, “Brasilidades” evoca o sentimento de pertencimento a cultura brasileira, cultura esta que foi onde o pagode desenvolveu-se. Outro aspecto pensado foi a arte de capa, ela contém diversos aspectos do cotidiano brasileiro, conectando assim com o próprio nome e com a proposta desse gênero musical. As fontes também referenciam o dia a dia brasileiro, uma vez que foram usadas fontes vernaculares, muito presentes em supermercados e bares. Por fim, as cores, foram utilizadas cores quentes, que remetem à alegria, paixão, calorosidade e animosidade, que são características das músicas de pagode.
Além do processo de codificação, outro aspecto da Escola Inglesa que é observado é a capacidade dos receptores de construir uma produção simbólica. Os estudos culturais ingleses diferenciam-se de outras escolas pelo fato de conceber que os receptores da mensagem são capazes de realizar uma produção simbólica, aliando suas condicionantes contextuais. Esse pensamento diferenciou-se dos outros estudos culturais pois muitos deles desconsideravam o papel de quem recebia a mensagem na produção de significado, colocando-os sempre em uma posição de passividade, ou seja, eles apenas recebiam a mensagem, desconsiderando suas próprias reflexões e contextos nesse processo de comunicação. Essa capacidade de produzir arte e pensamento próprio descrito na Escola Inglesa pode ser relacionado com as origens do pagode, visto que esse gênero musical originou-se nas periferias do Rio de Janeiro, essa origem pontua a ótica inglesa de que a massa é sim capaz de fazer reflexões e produções artísticas, enxergando-os não como objetos que apenas recebem a mensagem, mas como sujeitos com contextos próprios e capazes de produzir significado, pensamento muitas vezes negado em outras correntes comunicacionais como a Teoria da Agulha Hipodérmica e até mesmo a Teoria Crítica.
Dessa forma, o “Brasilidades” não é apenas um blog sobre pagode, é um espaço onde a cultura popular e o pensamento acadêmico se encontram e dialogam. Através dos ensinamentos da Escola Inglesa de Comunicação, entendemos que o pagode, mais do que um estilo musical, é uma forma legítima de expressão simbólica, criada por sujeitos ativos e conscientes de seus contextos. Ao integrar elementos visuais, sonoros e conceituais que remetem à brasilidade e ao universo do pagode, buscamos valorizar essa produção cultural como algo que comunica, interpreta e transforma. Afinal, comunicar não é só emitir mensagens, mas também reconhecer o poder de quem as recebe e ressignifica. E é nisso que acreditamos: que o pagode fala, canta e pensa, e que merece ser ouvido também como forma de conhecimento.




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